Colaboradores

terça-feira, 22 de julho de 2008

Vidraça embaçada

É uma paisagem estranha a desta janela
um ângulo desconhecido em vários
Procuro as formas e me inquieto:
um galho, um telhado, um sentimento novo
e desconserto-me em não saber
dos fragmentos um todo que me caiba

Há uma canção nesta janela
que fala de partidas e de uma espera

Há o toque de uma mão serena
que me afaga a alma e me desperta

Há uma voz forte que me despe o corpo
Ainda assim uma paisagem estranha

Nem o sol depois da chuva turva
me trouxe o alívio de alguma certeza
que fosse a árvore ou a arquitetura
o vulto do vendedor de jornais
o taxista atrás do muro
um lenço ao vento

Permanecem os pedaços todos
e em pedaços observo e espero
ouvindo uma canção que fala de partidas
e uma dor desconhecida me toma toda
como a chuva, turva, que molha a vidraça
e esconde os cacos da vida