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terça-feira, 4 de agosto de 2009

Brilho eterno de uma mente sem lembranças

Três vezes. Três. Três. Aquilo voltava. Quisera tanto. Tinha sito tão bom. Não tinha? Três. Não lembrava direito. Será? Tentava pensar noutra coisa. Precisava terminar o projeto, e as unhas estavam horríveis. Não conhecia aquele homem? Parecia que estava esquecendo alguma coisa. E se escrevesse de madrugada? Talvez bem cedo da manhã. À tarde não dava. Algumas coisas das tardes embrulhavam a mente. Três vezes. Lembrou. Sorriu e ficou vexada do homem que reparou. Como se não pudesse sorrir. Tanta dor, tanta mágoa, medo. E sorriu, só lembrança. Então escureceu de novo. Tinha de terminar o projeto, tinha tanto pra fazer. E depois? E depois? Depois. Espantou o temor. Podia fazer as unhas, pintar o cabelo. Caminhar sempre era bom, podia pensar. Nunca podia pensar, nunca tinha ela pra si. Pelo menos podia escolher no que pensar, embora a dor, a mágoa. Palavras. Fez força pra lembrar delas, alguma coisa, mas só sentia a pele, o calor, o gosto. Não lembrava mais de quê. Três vezes. Três só. E nunca mais. Nada mais. Três vezes. O que tinha ficado? Só coisas pra esquecer. Nada mais. Por três vezes. E agora um naco de vida, por quanto tempo? Nem sabia, era proibida de pensar. Tinha de passar no mercado. Estava esquecendo alguma coisa? Faltava alguma coisa. Estranhava. Suspirou, unhas, cabelo, mercado. Já é hora de voltar? Três vezes, e agora nem seu pensamento era mais seu. Nada era. Quem sabe agora seria sua. Pela primeira vez. Mas não sorriu. O tempo, pensou.