Colaboradores

terça-feira, 19 de abril de 2011

Oração

Noite
não há queixas
Apenas te recebo sem louvores
talvez uma graça apenas
mais das promessas que da tua beleza

Quero travar amizade com a ave de rapina que sobe o rio na tua descida
Que sabe ela de mim, como tu, para esse sobrevoo rápido?
Será ela a trazer os cinzas que depois tu tinges?

Mas não há queixas
apesar dos medos
estes, que tu escondes pelos cantos da casa
angústias atrás das portas
dúvidas sob a cama
Viram todos temores:
sons desconhecidos
sapos em cima do armário
chegadas inesperadas
a aflição por um tigre que não aparece
São aranhas atrás do sofá

Não, não há queixas
espero o sol sem pressa, juro-te
Eu te recebo como a um abraço
um vão oco que me caiba
vazio dessas coisas que se escondem pelos cantos
silencioso de pensamentos

Um gavião pode ser tigre em ti?
(como uma águia e um lobo que só se veem no teu primeiro segundo)
Então aqui ele é augúrio
segue o curso do rio contigo
te anuncia para mim, eu sei

O gavião. Habitará tigre outros sonhos?
Talvez me espere
Talvez eu não o reconheça em ti
Noite
nos barulhos e silêncios
nos sapos
nas aranhas
nos pescadores bêbados
nos animais ruminando na penumbra
No rei.