Colaboradores

sábado, 20 de setembro de 2008

Trégua

Estou em trânsito. Transe. Trâmite. Traduzindo-me. Traio-me. Trepida, tremula, trucida. Tragédia.

À sombra de Eliot

Este instante é meu tempo todo. Minha cultura, sacra, inegável. Tradição traição. Meu estar infixável, nunca estático. Meu querer em fuga, círculo caótico. Meu ser, profano racional. Neste instante incaptável.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Do livro dos desejos

Eu poderia ser essa mulher.
Já não sou?
Sou esta que mima teus desajustes e observa teu relógio?
Esta que se mimetiza por teus quereres?
Que estabelece em ti as considerações?

Sou esta que se encanta em descobrir mesmo os dissabores
- porque a vida é enfim contigo?

Sou esta que vê escurecer o castanho dos teus olhos
- a única - esta que sou?

Sou esta que não te estranha e te respira?
Esta cujo silêncio te chama?

Bem sei
pensas que te faço rir (mesmo que por graça)
que te alivio
e que por teu corpo no meu é que se transformam teus olhos
apenas porque sou esta
justamente esta
a quem nada prometes
- a quem não deves nada

Apenas porque sou esta
que te recebe aos punhados
como em pagas

Pois eu sou esta, justamente esta
para quem teu sorriso é inteiro
e teu pouco é tudo

Sou eu, sim, sou esta mulher.

domingo, 7 de setembro de 2008

Ressintindo-me

Moro embaixo da mesa
Sob aquilo que como e sirvo

Ousei desatar meus cabelos presos
E abandonar meu destino sob as engrenagens
E então minha vida no espelho

Meu corpo carne em cima da mesa
Preso em meu sexo
Que razão há em mim para ser diferente?

Eu danço essa música
Armo-me de seduções contra mim mesma
Sempre o mesmo vestido vermelho

Sempre o mesmo desejo
Carne e sexo
Não é vida isso?

Não é por isso que gira a máquina?
Que se abrem e se fecham portas e janelas?
Que razão há em mim para ser diferente?

Sou apenas um corpo a ser servido
Carne e sexo
E assim gira a engrenagem

Eu moro embaixo da mesa
Quis sair um dia
Meu atrevimento foi esta dor