Colaboradores

terça-feira, 19 de abril de 2011

Oração

Noite
não há queixas
Apenas te recebo sem louvores
talvez uma graça apenas
mais das promessas que da tua beleza

Quero travar amizade com a ave de rapina que sobe o rio na tua descida
Que sabe ela de mim, como tu, para esse sobrevoo rápido?
Será ela a trazer os cinzas que depois tu tinges?

Mas não há queixas
apesar dos medos
estes, que tu escondes pelos cantos da casa
angústias atrás das portas
dúvidas sob a cama
Viram todos temores:
sons desconhecidos
sapos em cima do armário
chegadas inesperadas
a aflição por um tigre que não aparece
São aranhas atrás do sofá

Não, não há queixas
espero o sol sem pressa, juro-te
Eu te recebo como a um abraço
um vão oco que me caiba
vazio dessas coisas que se escondem pelos cantos
silencioso de pensamentos

Um gavião pode ser tigre em ti?
(como uma águia e um lobo que só se veem no teu primeiro segundo)
Então aqui ele é augúrio
segue o curso do rio contigo
te anuncia para mim, eu sei

O gavião. Habitará tigre outros sonhos?
Talvez me espere
Talvez eu não o reconheça em ti
Noite
nos barulhos e silêncios
nos sapos
nas aranhas
nos pescadores bêbados
nos animais ruminando na penumbra
No rei.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Ivy-Marae

Não sigo os passos dos primeiros habitantes
É em sonho que persigo a terra-sem-males

A Pasárgada do Manuel
Nem faço questão de pau-de-sebo e amizade de rei
Nada de proezas inconsequentes
Ninguém me diagnosticou tango argentino

Quero escolher uma cama não tão larga
E o homem pra se deitar comigo
Então o amor a paz silenciosa e a vontade eterna
E banhos de mar, de rio (pode ser de chuveiro)

Onde o paraíso perdido de uma reles bocada?
Quero tanto mais da maçã!
O beijo suculento do corpo dele pesando em mim
Estou dispensando as sabedorias todas que Ele prometeu

Prefiro meu corpo nu

quarta-feira, 23 de março de 2011

Lenha


Teus sons pela casa me excitam
Teus pés pisando a madeira
Eu queria beijar teus pés
Tuas mãos tilintando as coisas
Eu queria tuas mãos nas minhas coisas

Vais secar o chão e colocar as coisas nos lugares
Eu queria que tu cuidasses das umidades minhas
E me tirasses do meu lugar

Há uma aranha na parede, eu digo
Teus pés vêm pela escada
Tuas pernas
Tu vens inteiro de cenho franzido
(tua contrariedade sempre me excita)
Eu te aponto meus temores
Morta, dizes, está morta

Milhões de anos se passaram
O instinto e esta fome
Que direciona meus olhos e meu corpo na tua direção
São tão selvagens como o medo

Este desejo cru
De te saber este homem
O dono da casa
Eu queria tu dono de mim agora
Mas vou fazer o almoço
as feras estão mortas
o dia nublado e a cama ainda está desfeita