Colaboradores

sábado, 28 de novembro de 2009

Natal

Não pude escolher o momento exato
adiantei o passo
e o ônibus teve tempo de parar

Tanto faz
ainda pisoteio as flores roxas na calçada
e prevejo temporais
observando seriamente o céu enegrecido

Sonhei que papai noel existe
mas não foi ele que bateu na minha porta

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Inteligência interpessoal

Bom dia gritava alto a mulher
Batendo palmas entre as grades
Decerto pra pedir
Um casaco pesado nesse dia de mormaço
Decerto pra se resguardar da solidão e do desprezo

O menino teimava em se virar
A mãe puxando-o pela mão
Decerto tantas vezes pedindo:
Responde fulaninho

Então ele gritou pra mim
Apressada na rua
Acenando sua mãozinha bom-dia bom-dia
Digo-lhe a verdade?

Faço meu melhor sorriso
Quero ser inocente
Bom-dia querido bom-dia
E sigo apressada

terça-feira, 24 de novembro de 2009

£.lectra: O sonho de Zhuang Zi

£.lectra: O sonho de Zhuang Zi

O sonho de Zhuang Zi

Então ele sorriu
Disse aquilo tudo e sorriu
Assim: sorriu

E naqueles cinco segundos estáticos
o sorriso dele sacudindo ela
passou o antes num filme

Cinco segundos
dentro dela uma contagem agressiva
cardíaca

Então ela pensou
despertando do sorriso:
eu sou essa mulher?

"Esse o resultado da transformação das coisas"

sábado, 21 de novembro de 2009

A mais poder

Aqui fazia temporal há uma semana com previsões de “um novo ciclone extratropical junto à costa gaúcha”. Portanto dias sem caminhada e sem sol na sacada do apartamento. O antigo ainda, a mudança adiada para uma semana antes do Natal. Essa era uma das dificuldades entre tantas, entre as de alongamento e músculos pedindo pra trabalhar. “Todo cuidado era pouco” com a mente, exigida no lugar deles nos últimos três anos.
Sobre o equilíbrio, ela, que tinha labirintite, tinha escrito há pouco em email para um “razão do ‘des’”: “equilíbrio se faz com dois pés no chão, pesos iguais dos dois lados”, mas ela nem estava falando disso, mas do seu desequilíbrio mesmo, alterado por problemas no lado esquerdo, pela falta de “um lado”, como ela disse. E a falta de ar já tinha sido diagnosticada desde 2003 como “angústia” e desde então aparecia pouco, bem pouco, que o peito então aberto já repleto de anticorpos.
“Tudo agora acontecia em etapas”, com a autoproibição de pensamentos futuros: em horas, com a escada de incêndio pendurada na manhã seguinte. Mentira essa história de que aparecia pouco, era só uma questão de já ter o diagnóstico e tomar a cápsula do autorrecondicionamento. Às vezes uma tragada do ar oceânico resolvia, mas agora que não tinha carro usava um charuto, com resultados bem próximos.
Então o viajante coloca uma agulha entre as linhas. Espetada aqui, nas calçadas de Porto Alegre cobertas de flores roxas, que ela pisa diariamente no trajeto até o Zaffari – porque entre o apartamento até a parada do Universitária, na Osvaldo, só há as marcas da passagem daqueles que são a maior população do Bom Fim, talvez com um tanto mais de aprumo do que os guaipecas italianos, e a imensa sombra da sinagoga (ao mesmo tempo em que ela pensa o que iam dizer disso, já que ela gosta da presença do prédio, mesmo em dias que tem de desviar dos seguranças e diminui o passo pra ouvir o sotaque do rabino, a quem ela deseja secretamente fazer uma pergunta, ela lembra: te contei que sou do interior?) – espezinhada, cutucada, ela emudece.
Ele deve saber, ela sorri, que eu não era daqui. (Mas parece que ele não sabe do pequeno mundo de seus pés e do ilimitado espaço de suas vontades.) E diz de calçadas e flores roxas propositadamente, para que ele leia o poema do dia primeiro de janeiro e entenda. Passa os dias seguintes àquele email pensando naquela regra de ne pas penser le future. Não tem o que dizer pra ele de Porto e de BH e de futuro. Que ele riria de sua inocência, como ri o amigo de suas anacrônicas dúvidas sobre a moral judaico-cristã e maçãs.
Só uma igreja em Valle Noncello? Ela sabe que um dia ele pediu ao pai que apagasse aquela imagem horrível da parede, porque pra ele era só isso: um desenho, que fazia os amigos lhe dizerem que ele estava entre os bons, perdoado portanto. Mas afinal perdoado de quê? Mas é bom que ela pare de falar do que não conhece, nesses tempos de suspeitas.
Ela tinha consciência disso, de seu profundo desconhecimento. De todas as coisas que ele certamente olhava agora com olhos desconfiados, de quem não tem o sonho de se ajoelhar no jardim de Giverny e beijar o chão por onde pisou o pintor de seus sonhos. Porque seus sonhos, e ela adquirira esse direito, são todos pincelados por Monet. É possível dizer que sonha impressionista, impressionada que é de tudo. O viajante, ela pensa, é um menino que ainda tem a mesma vontade daquele aprendiz de jardineiro, oferecendo-se pra plantar onze-horas, como quem se sinaliza na terra. Hoje poemas nos quintais do mundo. Então ela fecha os olhos e vê aquele menino jardineiro de trouxa às costas, percorrendo caminhos, já não mais no chafsaidcar da avó holliywoodiana, mas por seus próprios pés, catando uma a uma as pedrinhas deixadas pelo pai na rota inversa, e quer perguntar pra ele: que pedrinha é essa que tem em mãos agora, “velhinho apressado”?
Ela é da opinião que não é melhor correr como os outros. Recém aprendia a calma, e sua caminhada vibrante escondia um pensamento vagaroso, e ultimamente mais circular que o trajeto do Parcão. Ficou com vontade de dizer pra ele, agora mesmo, que parasse de pensar em apoplexias e corvos de outono. Que trocasse tangos argentinos e tragédias gregas por óperas italianas. Ela mesma estava chateada por ter perdido Tosca no Met Ópera, ali no Cine Moinhos, imagina a possibilidade não de um Metropolitan de verdade, mas de um Teatro dell’Opera di Roma! Apoplexia catártica!
Os olhos dele! Ela lembra de pedir com alegria infantil: se fores à casa de Monet, olha tudo pra mim, e os espetáculos de flamenco no Teatro Poliorama em Barcelona, Castle Rock e Eilean Donan Castle, na Escócia (e me traz o cheiro do lodo pra eu por no meu sonho, e, por favor, não olhe nada novo, nem entre, eu só preciso dos aromas seculares), há tanto ainda pra ver, e cheirar, e beijar, e por a mão do jeito brasileiro.
Capri. É mais perto, ela pensa. Se ele for a Capri, ela faria uma lista de coisas pra serem olhadas, que poderia ser resumido em ‘sinta tudo’. De repente ela se dá conta que “divieto sostare” é uma ordem que bem cabe a ele, correndo de guaipecas italianos ou seja lá o que for que eles simbolizem. Só que esse negócio de metáforas e metonímias (talvez uma sinédoque dependendo da escala) é bem coisa dela, que usa mais que assobio pra disfarçar. Em vez de treinar rodopios e chutes certeiros no branco com pintas pretas, ela costuma dançar no tapete da sala, quando as crianças não estão em casa, chove ou é noite, ou o coração pede que ela dê um jeito de desviar as idéias para o corpo, um corpo sozinho dançando na penumbra. E ela só para quando ele cansa demais pra voltar aos pensamentos. Às vezes o senso de ridículo ou a tristeza ou a solidão chegam antes e desligam o cd player. Raras vezes uma idéia aparece, que não é triste nem solitária e que pode ser aproveitada na tese, então ela volta ao computador.
E assim ela trafega entre calçadas roxas, telas de computador e tapetes, esperando. Uma banca de doutores que lhe aprove, um anjo torto que lhe diga “vai”, alguém que não seja virtual. Por causa da proibição, no entanto, tudo isso está dobrado na gaveta e agora ela só espera o verão, que os charutos estão acabando. O amigo dela, aquele do email do des-equilíbrio, tem o desejo de fugir daqui no primeiro pouso da andorinha, mas ele vive dizendo que está ficando velho demais pra isso e praquilo. Ela ama o verão e observa com gosto a gota que lhe escorre entre os seios quando o sol não respeita o divieto e estaciona nas terras meridionais do Brasil, ignorando a linha do Equador. Tão primitivo, ela pensa, e se regozija de ser só uma mulher.
E tu, ela pensa, virás com as andorinhas. Nada de neblinas no janeiro de Porto Alegre. Aqui, “outrora” é uma palavra que soi estar nos textos de Assis Brasil, e olhe lá! Secar duas vezes os joelhos? Bem capaz! ela exclama – antes disso, já estarás suado de novo, então é melhor ignorar essas pequenezas de umidade. Hosana in excelsis será o ar-condicionado!
O El-niño estragou a safra de amoras pretas em Três Forquilhas, no sítio dos pais dela. Será que teremos geléia suficiente pra lhe dar um pote e substituir a de mirtilo? ela pensa. E, como as coisas práticas da vida não respeitam as metáforas e as danças no tapete (só os desenhos no tapete, como o de Henry James), então ela lembrou que tem de ir à feira comprar manteiga. E a gata encolhida no sofá lembrou-a do verão que tarda e do anúncio de temporais, e das roupas na máquina, e da louça que ficou na pia da festa do aniversário do filho e da cama que às três da tarde está emaranhada.
Tanto tempo enrolando brigadeiros, por que não comemos de colher? Ora, ela pensa, há que se fazer algo pra justificar a espera, como não desligar o motor em local proibido, e ficar batendo no volante e olhando para os lados, como quem procura o passageiro perdido. Nem todos têm o olhar que se desvia para pedrinhas ao acaso (ou nem tanto), amplos pátios, cancelas e folhas amarelas, e cores de guaipecas. Nem todos sabem olhar pelos outros com olhos de afeto alheio. É mais fácil ignorar a placa.
Ela pensa no gosto de crostini de farina integrale e de mirtilos: poderia ele incluir na lista o sabor das coisas de lá? Se fosse uma história, escreveria uma carta pra ele que começaria assim: Menino-jardineiro, corredor-rural, poeta-viajante, acaba de bater um raio de sol na janela deste apartamento... Logo logo pousarão as andorinhas. Voa, e vai largando as tuas pedrinhas, que logo darás o maior chute em rodopio naquele branco de pintas pretas.

sábado, 26 de setembro de 2009

Fasten seat belt

Minhas mãos espalmadas num vidro inexistente
e lágrimas
correndo pra dentro do corpo
pra fingir que não

nem despedida nem nada
e as mesmas lacunas de sempre
as palavras que não me digo
não grito
pra fingir que sim

está bem assim
faz de conta que era uma vez
e foram felizes pra sempre

última chamada
aeronave no pátio
voo finalizado

então tá
foi

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Xerazade

Vai ser outro dia assim que fechar a porta
e nem cantou a cotovia

Virá o mundo até nós com seus juízos
e ninguém pergunta

tudo à revelia e Ás de espada

Então tenho de te contar uma história
de artimanhas sem desfecho

Era uma vez
Fecha a janela, está frio
Não, não ouvi nada

Uma mulher e um homem
mas tinha um mundo
Fecha, fecha a porta

Dá-me um suspiro a mais
escuta

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Brilho eterno de uma mente sem lembranças

Três vezes. Três. Três. Aquilo voltava. Quisera tanto. Tinha sito tão bom. Não tinha? Três. Não lembrava direito. Será? Tentava pensar noutra coisa. Precisava terminar o projeto, e as unhas estavam horríveis. Não conhecia aquele homem? Parecia que estava esquecendo alguma coisa. E se escrevesse de madrugada? Talvez bem cedo da manhã. À tarde não dava. Algumas coisas das tardes embrulhavam a mente. Três vezes. Lembrou. Sorriu e ficou vexada do homem que reparou. Como se não pudesse sorrir. Tanta dor, tanta mágoa, medo. E sorriu, só lembrança. Então escureceu de novo. Tinha de terminar o projeto, tinha tanto pra fazer. E depois? E depois? Depois. Espantou o temor. Podia fazer as unhas, pintar o cabelo. Caminhar sempre era bom, podia pensar. Nunca podia pensar, nunca tinha ela pra si. Pelo menos podia escolher no que pensar, embora a dor, a mágoa. Palavras. Fez força pra lembrar delas, alguma coisa, mas só sentia a pele, o calor, o gosto. Não lembrava mais de quê. Três vezes. Três só. E nunca mais. Nada mais. Três vezes. O que tinha ficado? Só coisas pra esquecer. Nada mais. Por três vezes. E agora um naco de vida, por quanto tempo? Nem sabia, era proibida de pensar. Tinha de passar no mercado. Estava esquecendo alguma coisa? Faltava alguma coisa. Estranhava. Suspirou, unhas, cabelo, mercado. Já é hora de voltar? Três vezes, e agora nem seu pensamento era mais seu. Nada era. Quem sabe agora seria sua. Pela primeira vez. Mas não sorriu. O tempo, pensou.

domingo, 2 de agosto de 2009

Aventura pictórica

Todas as paredes brancas e a cama e os lençóis. Só à cabeceira, cores de um quadro de Celma. E sexo. Amarelo e vermelho intenso como a tela . De repente não é sonho, e as pétalas de rosa vermelhas escondidas entre as páginas do livro de Nélida confessam o ato. Uma paixão que jaz memória, como leio em Coração Andarilho: Meu testemunho é impreciso, ela conta. O meu é a percepção, as cores me dizendo do sonho, do sexo e das coisas que nele pulsam. Mas fora dali tudo é branco, o corpo entre as páginas, morto. As pétalas voltam à tela, jactantes do gozo, sussurrando-me coisas. Mas é delírio e meu testemunho é impreciso.

domingo, 21 de junho de 2009

How to dance the charleston without my pearls?

De cabelo amarrado (pas a la garçon!)
nada melindrosa

jeans e camiseta
nua no quarto?
viva!

sem pérolas
até sem música
eu danço

minha senhora: eu
o resto eu espanto
adieu! que tenho pernas

play it again
Glenn

sábado, 21 de março de 2009

Uma borboleta

Pra onde eu vou a não ser meus olhos
no galho dessa árvore tão perto

Voaria dali talvez pra fugir
da dúvida que me tira o chão

Mas não escolho nada estática dentro de mim
volto os olhos para o vazio

e nada me respondo
ao menos tivesse asas

sexta-feira, 20 de março de 2009

Nunca

Leio Agualusa e ele me fala de silêncios em meio às mulheres da África. Silêncios que ele conta a quem não sabe deles. Este silêncio só foi interrompido agora pelo barulho das teclas do meu computador. Antes ele me dizia coisas apesar do barulho da rua. É um silêncio dolorido, que vem de dentro, como a alma calada, engolindo as lágrimas. Agora há pouco assustei-me com sua voz, a garganta estranhou o ar de um suspiro falante, acho que ela disse ai, não ouvi, me assustei. Minha alma sempre falou muito para mim, sempre no mais profundo silêncio. Aliás, é sempre nesses momentos que ela mais me fala, talvez o encontro com Agualusa a tenha despertado do seu sono dolorido.
Ela tem dores, hoje, diz-me. Sofre, pensa em voltar pra casa. Confunde-me um tanto isso, a minha casa ou a dela? Que seja a minha, que ainda tenho romances pra ler. Um amor de quem me despedir. Ah, ela sofre quando penso nele. Recolhe-se, põe a mão aos lábios e deixa-se chorar. Lágrimas silenciosas da alma, li isso em algum lugar. Ela não precisa me dizer, eu sei. Este corpo também sofre dele, da saudade. Mas, ela me explica num simples mover da cabeça, meu corpo não sabe. Ele só abre os braços e se aquece nele, ele não pensa na mão e na boca, ele só sente e fecha os olhos e se abandona ao instante que ele não calcula. Ela não, ela sofre de saber as horas e os dias, e o nunca, que é a dor dela hoje. O nunca, pode haver mais silêncio do que há no nunca, nunca mais? Ela me responde com os olhos úmidos, o silêncio da dor neles: não há. O nunca é um silêncio de abismo sem volta, nem a luz fala, nem o calor, nem o cheiro. Ele engole tudo. O nunca é o mais silencioso dos momentos.
Quero dizer pra ela que ele vem, logo a voz dele irrompendo o silêncio dela, mas não consigo, que palavras se usa pra fingir? Então, nos enroscamos as duas e choramos, nesse silêncio de abismo sem volta.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Sou eu

Meu amor, seguraste minha mão
Porque eu chorava
E sangue culpado escorria de meu peito

Essa ferida não é nossa, meu amor
É dor minha de mim mesmo
Que se abre na tua mão

Só fica aqui pra meu carinho
Nem pergunta nem resposta
Só solidão em pedaços

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Poker

Há pessoas que dão as cartas
e observam
sigilosas de suas damas de espadas

Há pessoas que blefam
e gargalham
pedem recontagem no final

Mas os cãezinhos brincam no gramado

Há pessoas com cartas na manga
que apodrecem
quando a mesa se esvazia

Há pessoas que suam
e odeiam
o tilintar que não tocam

Mas as andorinhas sempre voam

Há pessoas que não jogam
reservam-se
e perdem-se de não perder

Há pessoas
como cãezinhos e andorinhas
apenas jogam o jogo

Mas sempre há algo em jogo no jogo
Sempre há

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Abra os olhos

Eu estive aqui
porque meu céu se fez céu
e a terra embaixo de meus pés tremeu
brotando flores desconhecidas

Estou estática ou cínica
obedecendo apenas nem respiro
temo abalem-se os cristais e as pétalas
murchas de minha imprecisão estúpida

Eu não sei
posso sorrir o dia inteiro?
devo me assombrar do azul?
posso colher a flor roxa?

Eu tenho medo
se eu esfregar meus olhos
verei aquela mulher no espelho
com as mesmas cicatrizes

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

A caixa

Cinza
(de chuva um pouco)
A venesiana vem e vai, a luz não muda
só a angústia é este espaço negro
os cheiros sussurrando o tempo todo
são asas de cupim anunciando o dia da ruína

Varre-se o pó e trancam-se as janelas.

Luz e ruídos guardados numa caixa ao aviso do tempo
abrigados do pó que teima em cutucar
afastados pra segurança dos sentidos
pra que a consciência apenas envelheça

Mas é cinza, olha
escapando da caixa de papel apodrecida

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Porto Alegre

Quando finquei pé aqui
(porque não era desejo meu)
foi sem tempero e sem gosto

Passou a ser como se em breve eu fosse
tipo café de viagem

E sempre eu alçando vôos imaginários
pra certeza de meus pés soltos

E sempre o auto-convencimento do desgosto ferido
necessário e temporário

Certo dia o pôr-do-sol
e um ciclista veloz cortando o semideserto da rua
e um silêncio simbólico
flores roxas caindo como num poema
folhas brincando ao redor de meus pés
estáticos, profunda e completamente enraizados
aqui
nas calçadas de Porto Alegre