Colaboradores
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
Vazio
Há casais lá fora
cinzas e coloridos
Nem tão casais
às vezes apenas um vago
Nem isso posso
ocupar o vazio do banco,
a indiferença não faz parte dessa minha relação
Ao menos fosse assim
a paz – mesmo que teatral –
de sentar ao lado teu
como quem repassa os anos da vida em que éramos
eles
um casal que senta lado-a-lado
no banco vazio
e sonha com o que poderia ter sido
cinzas e coloridos
Nem tão casais
às vezes apenas um vago
Nem isso posso
ocupar o vazio do banco,
a indiferença não faz parte dessa minha relação
Ao menos fosse assim
a paz – mesmo que teatral –
de sentar ao lado teu
como quem repassa os anos da vida em que éramos
eles
um casal que senta lado-a-lado
no banco vazio
e sonha com o que poderia ter sido
Desperdício
Se lhe pousa a mosca:
O que sente a fruta, ainda verde, no pé?
Se a folha, tola, lhe cobre o sol?
Se o galho, torto, lhe impede a seiva?
Angustia-se a fruta verde por saber-se perene
e, ainda: jamais madura?
Assim me sinto:
fruta verde, inerte
Jamais minha carne suculenta te tocará os lábios.
Caio antes, verde! aos pés da macieira.
O que sente a fruta, ainda verde, no pé?
Se a folha, tola, lhe cobre o sol?
Se o galho, torto, lhe impede a seiva?
Angustia-se a fruta verde por saber-se perene
e, ainda: jamais madura?
Assim me sinto:
fruta verde, inerte
Jamais minha carne suculenta te tocará os lábios.
Caio antes, verde! aos pés da macieira.
Em tuas mãos
Toca-as
Com a ponta dos dedos úmidos
toca-as
Tua boca entreabre-se
teus olhos falam
goza-as uma a uma
As duas mãos
seguram e percorrem,
lânguida uma que às vezes
toca em teu próprio corpo
Teu corpo calmo (zombeteiro)
Mas tua boca e teus olhos traem teu prazer
Frenético percorres
e goza-as
todas
Queria ser esse livro em tuas mãos
Para que tocasses minha páginas
com essa lascívia
Para que teus lábios
murmurassem o prazer que seria meu
e que daria a ti
o prazer que veria nos teus olhos
ávidos, percorrendo minha páginas
abertas
existência apenas das tuas mãos e do teu decifrar
Com a ponta dos dedos úmidos
toca-as
Tua boca entreabre-se
teus olhos falam
goza-as uma a uma
As duas mãos
seguram e percorrem,
lânguida uma que às vezes
toca em teu próprio corpo
Teu corpo calmo (zombeteiro)
Mas tua boca e teus olhos traem teu prazer
Frenético percorres
e goza-as
todas
Queria ser esse livro em tuas mãos
Para que tocasses minha páginas
com essa lascívia
Para que teus lábios
murmurassem o prazer que seria meu
e que daria a ti
o prazer que veria nos teus olhos
ávidos, percorrendo minha páginas
abertas
existência apenas das tuas mãos e do teu decifrar
sábado, 25 de outubro de 2008
No answer
Eu ia dizer
que teu beijo é a fala mais perfeita
entre duas bocas
mas saiu antes um soluço
e pingou uma lágrima no tapete
me distraí do detalhe essencial
nem reparei mais na umidade do lençol
e nas outras manchas do chão
eu ia dizer do teu beijo
minha boca nem titubeava
foi só uma pergunta sem resposta
e outra pergunta e o não saber
de aceitar ou de Minas
nossa cama e nossa conta bancária
ficou o gosto do beijo na boca
muda
amargo
que teu beijo é a fala mais perfeita
entre duas bocas
mas saiu antes um soluço
e pingou uma lágrima no tapete
me distraí do detalhe essencial
nem reparei mais na umidade do lençol
e nas outras manchas do chão
eu ia dizer do teu beijo
minha boca nem titubeava
foi só uma pergunta sem resposta
e outra pergunta e o não saber
de aceitar ou de Minas
nossa cama e nossa conta bancária
ficou o gosto do beijo na boca
muda
amargo
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
Poeta que nada
Tá. Querem que eu vista a máscara
do estilo: um sujeito isento de fraque
Nada disso. Sou pessoa reles
da pá virada
Eu digo isso mesmo
sangue e volúpia
a dor própria e até mesmo o desatino
não vou escolher palavras
Não vou escolher sinônimos
pra desacorsoar os ritmos e fazer de conta
que existe um eu bem intencionado
Nada disso
Rasgo o papel em pedacinhos
antes do melindre e do tal cinzel
dos que sabem fazer bonito
em caderneta de acervo
Dou risadas desses desbundes
e depois choro da dor que disse
sou eu mesma: ninguém duvide
sujeita desajeitada e só
sujeitada a isso: sofro
só não sei fingir
Oh e me perdoem que perdi a chave
nem tenho ouro
só tenho essa boca
que é beijo é falta e também é
forma
de mim e ninguém mais
do estilo: um sujeito isento de fraque
Nada disso. Sou pessoa reles
da pá virada
Eu digo isso mesmo
sangue e volúpia
a dor própria e até mesmo o desatino
não vou escolher palavras
Não vou escolher sinônimos
pra desacorsoar os ritmos e fazer de conta
que existe um eu bem intencionado
Nada disso
Rasgo o papel em pedacinhos
antes do melindre e do tal cinzel
dos que sabem fazer bonito
em caderneta de acervo
Dou risadas desses desbundes
e depois choro da dor que disse
sou eu mesma: ninguém duvide
sujeita desajeitada e só
sujeitada a isso: sofro
só não sei fingir
Oh e me perdoem que perdi a chave
nem tenho ouro
só tenho essa boca
que é beijo é falta e também é
forma
de mim e ninguém mais
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