Colaboradores

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Vazio

Há casais lá fora
cinzas e coloridos
Nem tão casais
às vezes apenas um vago

Nem isso posso
ocupar o vazio do banco,
a indiferença não faz parte dessa minha relação

Ao menos fosse assim
a paz – mesmo que teatral –
de sentar ao lado teu
como quem repassa os anos da vida em que éramos
eles
um casal que senta lado-a-lado
no banco vazio
e sonha com o que poderia ter sido

Desperdício

Se lhe pousa a mosca:
O que sente a fruta, ainda verde, no pé?
Se a folha, tola, lhe cobre o sol?
Se o galho, torto, lhe impede a seiva?
Angustia-se a fruta verde por saber-se perene
e, ainda: jamais madura?

Assim me sinto:
fruta verde, inerte
Jamais minha carne suculenta te tocará os lábios.
Caio antes, verde! aos pés da macieira.

Em tuas mãos

Toca-as
Com a ponta dos dedos úmidos
toca-as

Tua boca entreabre-se
teus olhos falam
goza-as uma a uma

As duas mãos
seguram e percorrem,
lânguida uma que às vezes
toca em teu próprio corpo

Teu corpo calmo (zombeteiro)
Mas tua boca e teus olhos traem teu prazer

Frenético percorres
e goza-as
todas

Queria ser esse livro em tuas mãos
Para que tocasses minha páginas
com essa lascívia

Para que teus lábios
murmurassem o prazer que seria meu
e que daria a ti
o prazer que veria nos teus olhos
ávidos, percorrendo minha páginas
abertas
existência apenas das tuas mãos e do teu decifrar

sábado, 25 de outubro de 2008

No answer

Eu ia dizer
que teu beijo é a fala mais perfeita
entre duas bocas

mas saiu antes um soluço
e pingou uma lágrima no tapete
me distraí do detalhe essencial

nem reparei mais na umidade do lençol
e nas outras manchas do chão

eu ia dizer do teu beijo
minha boca nem titubeava
foi só uma pergunta sem resposta

e outra pergunta e o não saber
de aceitar ou de Minas
nossa cama e nossa conta bancária

ficou o gosto do beijo na boca
muda
amargo

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Poeta que nada

Tá. Querem que eu vista a máscara
do estilo: um sujeito isento de fraque
Nada disso. Sou pessoa reles
da pá virada

Eu digo isso mesmo
sangue e volúpia
a dor própria e até mesmo o desatino
não vou escolher palavras

Não vou escolher sinônimos
pra desacorsoar os ritmos e fazer de conta
que existe um eu bem intencionado
Nada disso

Rasgo o papel em pedacinhos
antes do melindre e do tal cinzel
dos que sabem fazer bonito
em caderneta de acervo

Dou risadas desses desbundes
e depois choro da dor que disse
sou eu mesma: ninguém duvide
sujeita desajeitada e só

sujeitada a isso: sofro
só não sei fingir
Oh e me perdoem que perdi a chave
nem tenho ouro

só tenho essa boca
que é beijo é falta e também é
forma
de mim e ninguém mais