Colaboradores

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Sou eu

Meu amor, seguraste minha mão
Porque eu chorava
E sangue culpado escorria de meu peito

Essa ferida não é nossa, meu amor
É dor minha de mim mesmo
Que se abre na tua mão

Só fica aqui pra meu carinho
Nem pergunta nem resposta
Só solidão em pedaços

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Poker

Há pessoas que dão as cartas
e observam
sigilosas de suas damas de espadas

Há pessoas que blefam
e gargalham
pedem recontagem no final

Mas os cãezinhos brincam no gramado

Há pessoas com cartas na manga
que apodrecem
quando a mesa se esvazia

Há pessoas que suam
e odeiam
o tilintar que não tocam

Mas as andorinhas sempre voam

Há pessoas que não jogam
reservam-se
e perdem-se de não perder

Há pessoas
como cãezinhos e andorinhas
apenas jogam o jogo

Mas sempre há algo em jogo no jogo
Sempre há

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Abra os olhos

Eu estive aqui
porque meu céu se fez céu
e a terra embaixo de meus pés tremeu
brotando flores desconhecidas

Estou estática ou cínica
obedecendo apenas nem respiro
temo abalem-se os cristais e as pétalas
murchas de minha imprecisão estúpida

Eu não sei
posso sorrir o dia inteiro?
devo me assombrar do azul?
posso colher a flor roxa?

Eu tenho medo
se eu esfregar meus olhos
verei aquela mulher no espelho
com as mesmas cicatrizes

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

A caixa

Cinza
(de chuva um pouco)
A venesiana vem e vai, a luz não muda
só a angústia é este espaço negro
os cheiros sussurrando o tempo todo
são asas de cupim anunciando o dia da ruína

Varre-se o pó e trancam-se as janelas.

Luz e ruídos guardados numa caixa ao aviso do tempo
abrigados do pó que teima em cutucar
afastados pra segurança dos sentidos
pra que a consciência apenas envelheça

Mas é cinza, olha
escapando da caixa de papel apodrecida

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Porto Alegre

Quando finquei pé aqui
(porque não era desejo meu)
foi sem tempero e sem gosto

Passou a ser como se em breve eu fosse
tipo café de viagem

E sempre eu alçando vôos imaginários
pra certeza de meus pés soltos

E sempre o auto-convencimento do desgosto ferido
necessário e temporário

Certo dia o pôr-do-sol
e um ciclista veloz cortando o semideserto da rua
e um silêncio simbólico
flores roxas caindo como num poema
folhas brincando ao redor de meus pés
estáticos, profunda e completamente enraizados
aqui
nas calçadas de Porto Alegre