Colaboradores
domingo, 31 de agosto de 2008
Fake
Eu tenho um armário cheio de máscaras
que só tu não conheces
Teu corpo me despe inteira
fico só eu no teu peito respirando-me
Às vezes eu não me encontro em ti
talvez perdida em tua alma
talvez à beira impenetrável de teu oceano
ou apenas assim: o vento do abismo em meus cabelos
Eu não sei das finitudes
a tatoo eterna do teu nome em mim
o que me pergunta é do tanto, esse tanto tanto
este côncavo que soterro de desculpas tolas
pra não me pôr de joelhos
Eu não te digo mais do que sou capaz
o resto eu não entendo
Então eu me finjo de poeta
pra fingir que finjo a dor que não é minha
pra pôr o vazio em peito alheio
pra empurrar outro corpo no desfiladeiro
É tudo mentira
faz tempo que eu só me confesso entre quatro paredes
Eu tenho um armário cheio de máscaras
mas nenhuma serve em meu coração
que só tu não conheces
Teu corpo me despe inteira
fico só eu no teu peito respirando-me
Às vezes eu não me encontro em ti
talvez perdida em tua alma
talvez à beira impenetrável de teu oceano
ou apenas assim: o vento do abismo em meus cabelos
Eu não sei das finitudes
a tatoo eterna do teu nome em mim
o que me pergunta é do tanto, esse tanto tanto
este côncavo que soterro de desculpas tolas
pra não me pôr de joelhos
Eu não te digo mais do que sou capaz
o resto eu não entendo
Então eu me finjo de poeta
pra fingir que finjo a dor que não é minha
pra pôr o vazio em peito alheio
pra empurrar outro corpo no desfiladeiro
É tudo mentira
faz tempo que eu só me confesso entre quatro paredes
Eu tenho um armário cheio de máscaras
mas nenhuma serve em meu coração
sábado, 30 de agosto de 2008
Disco arranhado
Estou cansada de ouvir sobre coisas que não me calam
coisas de caráter único e estático
verdades ditas entre sorrisos e aplausos moucos
Penso nelas apenas pelo que me des-pensam
e elas me dispensam os contrários, as descontinuidades
não têm meu crédito nem meu destempero
Eu quero as hipóteses na corda-bamba, as palavras-facas
que a dor delas me afasta da ferida
e me aproxima de mim
coisas de caráter único e estático
verdades ditas entre sorrisos e aplausos moucos
Penso nelas apenas pelo que me des-pensam
e elas me dispensam os contrários, as descontinuidades
não têm meu crédito nem meu destempero
Eu quero as hipóteses na corda-bamba, as palavras-facas
que a dor delas me afasta da ferida
e me aproxima de mim
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
Cortinas fechadas
Estou morta
Toca Outono de Piazzola
e ali jaz minha alma em decúbito
Morri inteira aos pedaços e em gotas
como chorava Manuel quando ele tinha medo
e eu sorri para ela
Morta
minha garganta enrijecida de não dizer
meu útero à espera das flores e das palavras
Quero dizer as últimas
mas que restará senão meu silêncio
e o calor da minha alma quando sob ti
Estou morta
Minhas costas voltam-se à luz
E tu estás lá sorrindo do meu prazer
Toca Outono de Piazzola
e ali jaz minha alma em decúbito
Morri inteira aos pedaços e em gotas
como chorava Manuel quando ele tinha medo
e eu sorri para ela
Morta
minha garganta enrijecida de não dizer
meu útero à espera das flores e das palavras
Quero dizer as últimas
mas que restará senão meu silêncio
e o calor da minha alma quando sob ti
Estou morta
Minhas costas voltam-se à luz
E tu estás lá sorrindo do meu prazer
segunda-feira, 18 de agosto de 2008
Dia de São Miguel
O que eu faço com esse amor?
Sobram meus adereços e meus ensaios
o carinho formiga minhas mãos
a vontade escorre de meu corpo
Minhas pernas estão perdidas
e minha boca desencantada de tanto acréscimo
Trago em bandeja o que recusas em bocados
Transbordo em cedências
Levo-me à feira?
Congelo-me
Sobram meus adereços e meus ensaios
o carinho formiga minhas mãos
a vontade escorre de meu corpo
Minhas pernas estão perdidas
e minha boca desencantada de tanto acréscimo
Trago em bandeja o que recusas em bocados
Transbordo em cedências
Levo-me à feira?
Congelo-me
Auto-poiesis
Permito escrever-me
a caneta vértice narradora de mim
Ela compõe meus pedaços:
a dúvida e o desencanto me emudecem
Meu equilíbrio está na loucura
Minha sintaxe corrompida se atreve
Ela me permite o que eu não devo
Perverte minha semântica, goza minhas metáforas
Sou artimanha de mim mesma:
Incapaz de ver senão no signo que me apaga
Os papéis riscados engoliram minha voz
Eles me gemem, me vomitam, me consomem
A caneta me devolve a alma em corpo nexo
Cada palavra um escárnio
Verso auto-sintagma
Uma colagem um desespero ânsia inteira
Uma morte
a caneta vértice narradora de mim
Ela compõe meus pedaços:
a dúvida e o desencanto me emudecem
Meu equilíbrio está na loucura
Minha sintaxe corrompida se atreve
Ela me permite o que eu não devo
Perverte minha semântica, goza minhas metáforas
Sou artimanha de mim mesma:
Incapaz de ver senão no signo que me apaga
Os papéis riscados engoliram minha voz
Eles me gemem, me vomitam, me consomem
A caneta me devolve a alma em corpo nexo
Cada palavra um escárnio
Verso auto-sintagma
Uma colagem um desespero ânsia inteira
Uma morte
quarta-feira, 13 de agosto de 2008
Espírito santo
Hoje me despi das asas e das vontades
fechei meu livro
Ajoelhada, mãos no chão, bebi cada palavra
meus cabelos confundindo as letras
Entreguei-me em prostração
exausta do que me desmente, aceito
Aceito-me. Esta é minha carne
esta é minha alma
Este é meu corpo que se faz em ti
Faz em mim tua vontade
E Deus perdoe meu contentamento
e meu delírio
Já que não há perdão pra meu amor
fechei meu livro
Ajoelhada, mãos no chão, bebi cada palavra
meus cabelos confundindo as letras
Entreguei-me em prostração
exausta do que me desmente, aceito
Aceito-me. Esta é minha carne
esta é minha alma
Este é meu corpo que se faz em ti
Faz em mim tua vontade
E Deus perdoe meu contentamento
e meu delírio
Já que não há perdão pra meu amor
Talvez a vida seja mesmo esse mistério
Sabe? A gente não sabe nada. Rian de rian. Até as ciências exatas duvidam de si mesmas. Pensa no próximo segundo, que sabemos dele? Ah, que se tropeça... Duvidas do inferno? O melhor amigo inveja e odeia, como tu. Duvidas de Deus? Escarneça, então, lança ao diabo tua melhor oferta! Não temos o arbítrio de um segundo. De uma curva. De um suspiro. Às favas! Baunilha...sorvete... Adoro sorvete de baunilha!
domingo, 10 de agosto de 2008
sexta-feira, 8 de agosto de 2008
Hybris
Escolho sofrer
antes minha vida em versos alexandrinos
do que a insipidez dos cegamente felizes
que comem e dormem e lêem o jornal pela primeira página
Escolho sentir
Meus cinco dados pela janela e não importa a conta
todos os meus desacertos valem o teu beijo e o teu desprezo
Os meus sentidos não têm medo do veneno e do cadafalso
Escolho saber
mesmo as rotinas e as bárbaries, a quebra de todas as promessas
minhas vontades insatisfeitas, meus ridículos
mesmo o teu medo de jogar os dados
Escolho viver
escolho-me
antes minha vida em versos alexandrinos
do que a insipidez dos cegamente felizes
que comem e dormem e lêem o jornal pela primeira página
Escolho sentir
Meus cinco dados pela janela e não importa a conta
todos os meus desacertos valem o teu beijo e o teu desprezo
Os meus sentidos não têm medo do veneno e do cadafalso
Escolho saber
mesmo as rotinas e as bárbaries, a quebra de todas as promessas
minhas vontades insatisfeitas, meus ridículos
mesmo o teu medo de jogar os dados
Escolho viver
escolho-me
quinta-feira, 7 de agosto de 2008
Claustrofobia
De todas as minhas incertezas tenho em ti a constante
teus significados não me põem à prova
o que me questiona é o possível que trazes nos bolsos
Tu não és minha única resposta
O vazio jaz em mim
nas coisas que perderam o sentido depois do teu gesto
Por que uma casa e um gato?
Por que domingos?
Por que vida?
Essa dúvida de mim me esquarteja no espelho
me acorda de manhã situando as paredes descascadas
os desbotados, os rotos, todos os desatinos, as coisas tortas
Eu podia viver sem sentir essas protuberâncias
essa estranheza desconfortável de quem respira o desconhecido
Agora quero sentidos aos domingos
e a tua constância na minha varanda
quero acariciar o gato
quero esvaziar teus bolsos
Quero viver
teus significados não me põem à prova
o que me questiona é o possível que trazes nos bolsos
Tu não és minha única resposta
O vazio jaz em mim
nas coisas que perderam o sentido depois do teu gesto
Por que uma casa e um gato?
Por que domingos?
Por que vida?
Essa dúvida de mim me esquarteja no espelho
me acorda de manhã situando as paredes descascadas
os desbotados, os rotos, todos os desatinos, as coisas tortas
Eu podia viver sem sentir essas protuberâncias
essa estranheza desconfortável de quem respira o desconhecido
Agora quero sentidos aos domingos
e a tua constância na minha varanda
quero acariciar o gato
quero esvaziar teus bolsos
Quero viver
quarta-feira, 6 de agosto de 2008
Noventa e nove folhas mortas
Meu corpo já estava gélido quando ele chegou
Todas as minhas folhas secas
Eu podia ter aquecido a cama
E a água para o chá, mas
O tempo também esfria as vontades
E foi assim que o esquecimento me apagou inteira
E me varreu no chão de inverno
Como as folhas caídas
E as promessas de uma outra estação
Quando o frio me deixa desenhar um coração na janela
O amor me aquece e dói
Esse verdadeiro que me dá bom-dia
Minha hibernação começa agora
E para sempre, sempre, sempre
Todas as minhas folhas secas
Eu podia ter aquecido a cama
E a água para o chá, mas
O tempo também esfria as vontades
E foi assim que o esquecimento me apagou inteira
E me varreu no chão de inverno
Como as folhas caídas
E as promessas de uma outra estação
Quando o frio me deixa desenhar um coração na janela
O amor me aquece e dói
Esse verdadeiro que me dá bom-dia
Minha hibernação começa agora
E para sempre, sempre, sempre
domingo, 3 de agosto de 2008
Cinzas da desordem
Toca um tango
E chama Manuel
Que eu decidi pôr um fim nessas capitulações
Chama Manuel pra dançar comigo
E gargalhar do trem que nós perdemos ontem
Ele sabe bem não se importar com a ferida
Chama Manuel que ele me conhece
Nós vamos beber e falar tolices
Todas as verdades suportem nosso lirismo louco
Até de manhã nossos corpos vão brincar
Enquanto nossas almas secam no varal esquecidas
Chama Manuel que eu quero entontecer
na desordem da casa e no meu desaprumo
Vamos contar estrelas cadentes
E exclamar o belo num último poema descomedido
Chama, chama Manuel
Que eu vou ser a mulher que ele desconhece
Que a vida é uma sombra na minha epiderme
E chama Manuel
Que eu decidi pôr um fim nessas capitulações
Chama Manuel pra dançar comigo
E gargalhar do trem que nós perdemos ontem
Ele sabe bem não se importar com a ferida
Chama Manuel que ele me conhece
Nós vamos beber e falar tolices
Todas as verdades suportem nosso lirismo louco
Até de manhã nossos corpos vão brincar
Enquanto nossas almas secam no varal esquecidas
Chama Manuel que eu quero entontecer
na desordem da casa e no meu desaprumo
Vamos contar estrelas cadentes
E exclamar o belo num último poema descomedido
Chama, chama Manuel
Que eu vou ser a mulher que ele desconhece
Que a vida é uma sombra na minha epiderme
Lexotan
Há tantos pensamentos pululando, que nenhum se me decide corromper a preguiça de levar até o fim uma idéia que seja. Tem gente falando, tem pergunta, tem crítica e comiseração. Tem gente idiota e tem olhar que me chama. E há aquele vazio. Falta que me põe estática e que me sacode por dentro. Eu não sei se respondo a essa lacuna. Tenho vontade de gritar com o eu que eu conheço e que me agride por dentro. Mas o resto que há em mim, e que ainda não decifrei, me fecha os poros e as janelas. Tranca minhas portas e o meu grito na garganta. Então nem luta nem sono. Porque minha alma nunca dorme. Meu Deus! ela me põe sempre em alerta e me cutuca o tempo todo. É revoltante o que me faz, nunca inteira, sempre soçobrante, sempre na espera, sempre procurando pergunta, nunca satisfeita de mim. E meu corpo um canalha que rasteja atrás dela, cão infiel. Cadela traiçoeira. Uniram-se pra me desestabilizar, pra corromper minhas poucas sabedorias próprias. Minha vingança pesa seis miligramas.
Da carne e suas inconsistências - II
Não sei que valsa toca a essa hora
Nem sei dançar a música que ele toca
Não sei por que meu corpo chora
Se é por falta dele ou ausência minha
Não sei por que me congela o peito
Se minha boca queima por querer o beijo
Não sei por que me cala a voz
Se é a voz dele que me devora
Não sei como me penetra a dor
Se a dor é causa dele que me falta
Não sei por que ele
Nem sei por que eu
Nem sei dançar a música que ele toca
Não sei por que meu corpo chora
Se é por falta dele ou ausência minha
Não sei por que me congela o peito
Se minha boca queima por querer o beijo
Não sei por que me cala a voz
Se é a voz dele que me devora
Não sei como me penetra a dor
Se a dor é causa dele que me falta
Não sei por que ele
Nem sei por que eu
Da carne e suas inconsistências - I
Como saber de tudo isso
Ainda tenho dúvidas de mim
As calçadas tão estreitas
As janelas me cortam o pescoço
E ainda assim o espelho mostra tantas faces da mesma
Como saber
Das escolhas, de uma razão, de tantas vontades
adivinhar passos e necessidades e interrogar se eu não sei
Posso escarnecer do que vejo
E é tão pouco e tão ridículo e tão misógino
Tenho ânsia e náusea de minha completa ignorância de mim
Como saber
Se eu vivo mesmo a minha vida
Um suco de laranja apropriado e uma roupa que me cabe
É meu o direito do conhecimento
Talvez da cor do meu cabelo
Das sinapses incompletas e do sofrimento que me vale
Monet sabe mais de mim
em sua moldura aberta
do que minha cama aquecida por dois corpos e um edredom
Eu sou uma farsa
Um sopro apenas
E volto àquele que me domina e me cria à sua própria face
Ainda tenho dúvidas de mim
As calçadas tão estreitas
As janelas me cortam o pescoço
E ainda assim o espelho mostra tantas faces da mesma
Como saber
Das escolhas, de uma razão, de tantas vontades
adivinhar passos e necessidades e interrogar se eu não sei
Posso escarnecer do que vejo
E é tão pouco e tão ridículo e tão misógino
Tenho ânsia e náusea de minha completa ignorância de mim
Como saber
Se eu vivo mesmo a minha vida
Um suco de laranja apropriado e uma roupa que me cabe
É meu o direito do conhecimento
Talvez da cor do meu cabelo
Das sinapses incompletas e do sofrimento que me vale
Monet sabe mais de mim
em sua moldura aberta
do que minha cama aquecida por dois corpos e um edredom
Eu sou uma farsa
Um sopro apenas
E volto àquele que me domina e me cria à sua própria face
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