Colaboradores

sexta-feira, 19 de março de 2010

Um poema para o poeta

Ei, Charles, você foi esperto!
Não quis botar o pau no fogo
e escolheu uma mulher boa
delicada, deliciosa e magnifíca

Cara, deixa eu te dizer -
embora isso nem importe mais, não é mesmo?
Eu já fui dessas
mas agora estou recusando os espertos

Agora chama o garçom
e pede dois do mesmo
acho que ainda não estamos no ponto
de falar sobre o que desconhecemos

quinta-feira, 11 de março de 2010

Poetisa de verdade

Adélia temperando a comida em fogo brando
os líquidos suculentos, os cheiros que dançam na cozinha maculada

Adélia olhando pela vidraça, a mão movimentando a colher primitivamente
e a mão de Deus, as flores, as pessoas, os carros

Quando as narinas e o paladar - e ela prova os sabores - sabem que é chegada a hora
Adélia larga a colher, apaga o fogo, estende a toalha.
Chama a família.
Manda servir.

E vai refletir poeticamente na sala ao lado
os sabores da janela que lhe ficaram na boca

Romance

Eu preciso de romance
digam o que quiserem

Quero margaridas na manhã seguinte
e um olhar terno na próxima noite

Preciso que me leve no topo à noite
para olhar as luzes da cidade
Quero contar as estrelas com quatro mãos

Preciso daqueles bilhetinhos com duas ou três palavras
sem assinaturas, sem desculpas
Nenhum amigo que recomende rosas vermelhas

Apenas verdades românticas

Ninguém que precise de conselhos
apenas me encare, encare-se
olhos nos olhos
fogo nos olhos
leveza nas mãos firmes

e beijos sinceros

Eu preciso de romance
digam o que quiserem

sábado, 6 de março de 2010

There is a pleasure in the pathless woods

There is a pleasure in the pathless woods


Meus olhos fechados em Madison County
mas não é a Imes Bridge que eu vejo
onde as cinzas foram espalhadas

nem lembranças guardadas numa caixa
um livro dedicado a F
nem as velas na borda da banheira
e o vestido vermelho do adeus

os silêncios e as pontes
pretextos para arrastar o tempo

Há um sinal vermelho na estrada
e um instante
que atravessa a vida

A mão segura a maçaneta
chove
no retrovisor embaçado um pêndulo
avisando do tempo

A mão aperta a maçaneta
chora
e um caminho desconhecido e possível
fica pra trás